sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Sinfonia do Despertar


Ao longe eu posso ouvir a passarada estrepitosa anunciando a nova manhã que chega. Ainda tento puxar o cobertor para me esconder do sol que, ardente e triunfante, insiste em tingir de dourado as paredes beges do meu quarto. Nasce uma nova manhã. Novo convite à luta, ao crescimento, ao amor. Dia novinho em folha para fazer dele o que quiser
E diante de mim uma escolha...
Continuar dormindo, ainda que desperto, seguindo sem destino, de olhos vendados, ouvidos moucos. Vagar com a turba desavisada que, tíbia, ama sem convicção. Acompanhar o ruído desconexo das consciências adormecidas que correm sem saber para onde vão, que comem, dormem, trabalham, se reproduzem, envelhecem e morrem sem nada deixar além de uma meia dúzia de merrecas, ferozmente disputadas por descendentes gananciosos e venais. Nada criando, nada sentindo.
Ou ouvir o chamado da manhã, me encantar com o canto dos pássaros, vibrar com a flor que se abre ao amanhecer, sentir o prazer da brisa me acariciando a face. Ver em tudo e em todos a manifestação de algo superior aos comezinhos quefazeres da vida, a Beleza Superior aguardando que eu, artífice de um destino glorioso, desperte finalmente. Viver para tocar corações, buscando encontros verdadeiros, relações verdadeiramente amorosas. Caminhando na direção do outro, ouvindo suas melodias, sentindo seus anseios, tirando sua alma para dançar. Deixando para aqueles que se defrontarem com minha vida, não um exemplo de perfeição a ser seguido, mas a doce recordação de alguém que viveu para ser gente, para cultivar flores em meio às pedras do caminho.
Talvez essa não seja a escolha mais fácil, sem dúvida é o caminho mais áspero. Lágrimas farão baixar a poeira do caminho, espinhos de jardins alheios farão sangrar, corações desérticos farão sentir sede e fome, mas ao final da caminhada, veremos que viver terá valido a pena. Quando memória colocar à prova nossas realizações teremos a certeza de que não passamos pela vida deixando de desfrutar o que de mais belo ela tem, os corações que encon-tramos na caminhada.
É hora de pegar a lira, abrir o coração e, com os olhos no horizonte, compor nossa Sinfonia do Despertar. E ainda que imperfeita ela seja (e será), ela será única, fascinante. Espetáculo imperdível onde seremos, ao mesmo tempo, protagonistas e coadjuvantes, compositores e expectadores da Grande Sinfonia da Vida.
Beijos na Alma

Leonardo...

sábado, 5 de janeiro de 2008

Nada a Dizer...



Silêncio, luzes apagadas, a noite dorme, o mundo descansa. Acordados só eu, minha caneca de louça trincada, cheia de café já quase frio, e meu velho teclado, já de letras apagadas. Antigos companheiros de alucinações literárias, hoje contemplando, imóveis, minha total ausência de inspiração.
Meus pensamentos, antes tão ágeis em busca de viagens alucinadas aos porões da noite, hoje teimam em tomar rumos distintos. Eu, acostumado a divagações filosóficas, a complexas questões éticas, ao simbolismo de minhas crônicas insones, hoje perco o sono por algo mais simples, mais elementar e muito mais poderoso.
O relógio parado, na parede engordurada da cozinha, continua marcando as horas que, agora entendo perfeitamente, para nós não passam, num segundo eterno, presente perpétuo.
A cada tic tac inexistente, o tempo insiste em não passar cada vez mais rápido. O dia já vem. Os sabiás já cantam no quintal e eu ali, vivendo aquele mesmo instante, alheio ao tempo, alheio ao espaço, alheio a mim.
Não sei se por cansaço ou por tédio o sono, que há muito me abandonara, resolvera voltar à minha compania, fazendo pesar minhas pálpebras neste momento já inchadas.
Mas uma noite se finda, mais um deliro noturno se perpetua. Sorvo o último gole de café e percebo que passei a noite inteira tentando dizer que não tinha nada para dizer.
Parece estranho? Deve ser, mas estranhas são as terras ainda inexploradas. Aguardemos a próxima noite. Quem sabe não continuemos nossa expedição, explorando as terras ainda bravias da alma humana.
Que não falte cafeína em suas noites de insônia, e que apagadas sejam apenas as letras do meu velho teclado.