terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Idade das Trevas

Aquele havia sido um dia como tantos outros , sem grandes emoções. Aqui e acolá pessoas corriam atarantadas cheias de sacolas , afinal era quase Natal., Ainda que sem canecas trincadas de louça ou longe do relógio parado na parede engordurada da cozinha, o vento frio no rosto trazia algo de confortador, de familiar.

Me aguardando apenas uma longa e tediosa caminhada pra casa. Como companheiros só meus pensamentos, inevitavelmente viajando por lugares pouco visitados, por vilarejos longínquos , sutilezas filosóficas que a noite normalmente inspira, nada de anormal. Nada?

De uma dessas esquinas escuras da vida surgem duas criaturas estranhas, nem tão altas , nem tão baixas, vindo em minha direção com suas bicicletas trazendo maus presságios. Uma desprazerosa onda de frio me passou rapidamente do cóccix ao pescoço, o sangue correu mais rápido nas veias, coração na garganta...

Mais um assalto. Desses muitos que vemos todos os dias no noticiário, tantos que nem prestamos mais atenção. Tantos que já temos a sensação de em toda esquina aguarda um assaltante, de que é tão natural lidar com a violência que tolo é quem sai à noite. Errado está quem passa por essa ou aquela rua, quem não fica em casa trancado atrás das fortalezas que construímos para nos escondermos da violência, ou para nos abrigarmos de nossos medos essenciais.

Aos poucos vamos renunciando aos nossos pequenos prazeres em busca de uma sensação de segurança. Mesma sensação de segurança que nos dá o indivíduo que passa apitando de madrugada, sem fazer nada de objetivo ou útil além disso.

Estamos voltando à Idade das Trevas, quando os castelos tinham lanças nos muros, fossos, jacarés, guaritas e guardas armados à porta. Quando as pessoas se reuniam em feudos, trocando a liberdade pela segurança oferecida pelo Senhor Feudal, onde a Lei era a espada e a única proteção vinha do escudo e da armadura, que hoje trocamos por carros blindados e coletes a prova de balas.

Até quando permaneceremos prisioneiros da miséria? Até quando nos sentiremos culpados por tentarmos deixar a segurança de nossos lares para buscar a felicidade? Até quando só nos indignaremos na frente da TV no hora do Jornal Nacional? Até quando?

Quem leu até aqui poderá pensar que eu tenho uma resposta, pois não tenho. Só me recuso a pensar que tudo isso é normal , que o máximo que podemos fazer é trancar o portão e não sair de casa. Me recuso a permanecer calado, a deixar que me roubem até a voz.


Lord DArk Nigh ou Leonardo, o que preferirem...


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