sábado, 5 de janeiro de 2008

Nada a Dizer...



Silêncio, luzes apagadas, a noite dorme, o mundo descansa. Acordados só eu, minha caneca de louça trincada, cheia de café já quase frio, e meu velho teclado, já de letras apagadas. Antigos companheiros de alucinações literárias, hoje contemplando, imóveis, minha total ausência de inspiração.
Meus pensamentos, antes tão ágeis em busca de viagens alucinadas aos porões da noite, hoje teimam em tomar rumos distintos. Eu, acostumado a divagações filosóficas, a complexas questões éticas, ao simbolismo de minhas crônicas insones, hoje perco o sono por algo mais simples, mais elementar e muito mais poderoso.
O relógio parado, na parede engordurada da cozinha, continua marcando as horas que, agora entendo perfeitamente, para nós não passam, num segundo eterno, presente perpétuo.
A cada tic tac inexistente, o tempo insiste em não passar cada vez mais rápido. O dia já vem. Os sabiás já cantam no quintal e eu ali, vivendo aquele mesmo instante, alheio ao tempo, alheio ao espaço, alheio a mim.
Não sei se por cansaço ou por tédio o sono, que há muito me abandonara, resolvera voltar à minha compania, fazendo pesar minhas pálpebras neste momento já inchadas.
Mas uma noite se finda, mais um deliro noturno se perpetua. Sorvo o último gole de café e percebo que passei a noite inteira tentando dizer que não tinha nada para dizer.
Parece estranho? Deve ser, mas estranhas são as terras ainda inexploradas. Aguardemos a próxima noite. Quem sabe não continuemos nossa expedição, explorando as terras ainda bravias da alma humana.
Que não falte cafeína em suas noites de insônia, e que apagadas sejam apenas as letras do meu velho teclado.